03 August 2025

Será possível reunir outra colecção de inanidades mais imbecis do que estas? *

"Acho difícil de conceber que depois dos 2 anos uma criança tenha que ser alimentada ao peito durante o horário de trabalho. Isso quer dizer que se calhar não come mais nada, o que é estranho. Nada impede que uma criança com dois anos, ou três, ou quatro, ou o que seja, seja amamentada de manhã e à noite”

* A mana Guidinha está autorizada a conocorrer 

 
(sequência daqui) Por último, e presenteando-nos com a súmula perfeita realizada por quem domina a matéria por fora e por dentro, o 4º pilar é sustentado por Bob Dylan: "Bob. Há um esforço, uma tensão nas suas canções. Quando começa uma canção de 7 ou 8 minutos, por exemplo, 'Visions Of Joanna' ou 'Tangled Up In Blue', musicalmente bastante simples... não surge nenhuma instrumentação nova, deixamo-nos ir atrás, é apenas aquele núcleo de melodia e som em fusão, sobre o qual ele conta uma história. Pensava que isso estivesse para além das minhas capacidades. Neste álbum, há uma canção de 8 minutos, 'Breakfast On The Train', 2 minutos acima da canção mais longa que já escrevi..." Eu não o teria dito melhor, Robert. Chamaria apenas a atenção para que, se há aqui uma canção dylaniana, ela só pode ser 'Tell It Back To Me', aliança perfeita entre jingle-jangle byrdsiano de guitarras e ostinato de harmónica a oferecer espessura ao pós-refrão.

31 July 2025

Já com um certo atraso 
mas era um crime deixá-lo escapar

OS 4 PILARES
 
 
Das profundezas do Instagram, Robert Forster esclarece-nos acerca dos 4 pilares sobre os quais assenta o seu último álbum, Strawberries: "É o meu primeiro álbum de 8 canções. Há décadas que desejava gravar um álbum com 8 canções. Há centenas de milhares de óptimos álbuns com 8 canções. Provavelmente, o primeiro verdadeiramente marcante foi Marquee Moon, dos Television. Costumava escutar aquelas 4 canções de cada lado do disco e tudo era belo e perfeito". De seguida, o segundo pilar: "Há 3 bandas de Nova Iorque que sempre adorei: The Lovin' Spoonful, Talking Heads e Vampire Weekend. Para mim, estas bandas, em décadas diferentes, criaram música pop inteligente e corajosa. Consigo ouvir ecos de tudo isso em 'Good To Cry'". Abrindo uma outra via, é a vez de Leonard Cohen: "Neste álbum, evitei escrever na 1ª pessoa. Quis escrever com um narrador diferente e o Leonard deu-me uma ajuda nisso. Neste processo, apenas o usei numa canção, 'All Of The Time'". (daqui; segue para aqui)
 

14 July 2025

Smiley Smile (na íntegra)

(sequência daqui) Procuravam reconquistar relevância na contracultura, e por um breve momento, conseguiram. Mike Love retomou o comando criativo. Brian retornou, mas apagado. Os anos 80 transformaram-nos numa caricatura: hinos de praia, patriotismo vago, casacos de marinheiro. Era a era Reagan. E eles pareciam a banda da alvorada neoliberal. E, no entanto, o culto nunca desaparecera. Em 2012, com membros em estados diversos de conservação — do perturbado ao falecido —, os Beach Boys celebraram 50 anos de carreira. O feito bastou para os colocar ao lado dos Rolling Stones no panteão jurássico do rock. E justificou, ao menos simbolicamente, as mais de 30 compilações lançadas acerca deles. Algumas são apenas reflexos automáticos da indústria. Mas outras são joias reveladoras. The Pet Sounds Sessions (1997) abriu as cortinas do seu maior disco. The Smile Sessions (2011) deu forma à alucinação interrompida. E Made in California (2013), com 6 discos, 174 faixas (60 inéditas), foi mais uma tentativa de capturar o infinito. Os produtores disseram que poderiam ter incluído 300 faixas. Mas Made in California deixaria claro: o caminho traçado por Brian Wilson — de sofisticação pop que recusa a grandiloquência sinfónica — ainda é singular. Smile e Surf’s Up são os dois polos dessa odisseia: um sonha a América através da fantasia; o outro, encara-a pelo lado do desencanto. E, entre ambos, esconde-se o verdadeiro legado dos Beach Boys — não a banda sonora para dias banhados de sol, mas o espelho partido da América.

11 July 2025

"Don't Go Near The Water" (de Surf's Up, na íntegra aqui)

(sequência daquiSmile foi arquivado semanas antes do lançamento de Sgt. Pepper’s. Ficaram as ruínas: fragmentos em Smiley Smile (1967), os bootlegs da Sea of Tunes, a caixa Good Vibrations: Thirty Years of The Beach Boys (1993), a reinterpretação de 2004 com os Wondermints e Parks, e, finalmente, em 2011, The Smile Sessions, com mais de quatro horas de sessões originais. Já conhecíamos tudo, mas nunca assim. Era a restauração de uma miragem. Enquanto Smile morria antes de nascer, os Beach Boys sobreviventes buscavam um novo começo. Sem Brian no comando, os anos 1970 revelaram uma banda distante do eterno hedonismo californiano. Barbudos, introspectivos e politizados, lançaram álbuns como Sunflower (1970) e Surf’s Up (1971), com canções que abordavam a violência policial, a resistência juvenil e o desencanto político (“Nothing much was said about it and really next to nothing done, the pen is mightier than the sword, but no match for a gun!" cantava-se em "Student Demonstration Time"). “Eles são profundos, comprometidos e modernos”, escrevia Tom Smucker na "Creem". Em consonância com esta imagem, a banda acolheu as políticas de esquerda e exibiu uma consciência social. As atuações ao vivo estavam impregnadas de um propósito político. Em 1971, actuaram nas manifestações do Dia do Trabalhador em Washington, contra a guerra no Vietname, que resultaria na maior detenção em massa da história dos Estados Unidos. Em 1974, actuaram com Bob Dylan, Pete Seeger e Phil Ochs no "An Evening with Salvador Allende", um concerto de beneficência em homenagem ao antigo presidente socialista do Chile, derrubado por um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos. (segue para aqui)